26/10/2010

O PANORAMA DA EDUCAÇÃO


 O Estado de São Paulo, 25/10/2010 - São Paulo SP 
O panorama da educação
O mais recente levantamento comparativo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em matéria de educação - o relatório Education at a glance 2010 - revela que, apesar de ter ampliado os gastos com o ensino fundamental na primeira década de 2000, o Brasil ainda investe só 1/5 do que os países desenvolvidos destinam ao setor. O levantamento cobre todos os ciclos de ensino e leva em conta a educação pública e privada. Segundo ele, enquanto países como Alemanha, Bélgica, França, Reino Unido, Áustria, Dinamarca, Noruega, Itália, Islândia, Estados Unidos e Japão investem, em média, US$ 94.589 por estudante durante todo o ciclo do ensino fundamental, no Brasil o gasto médio é de US$ 19.516 por aluno. O resultado é que, em matéria de formação e preparo, os estudantes brasileiros continuam muito longe dos estudantes dos países desenvolvidos. A pesquisa da OCDE comparou os investimentos no ensino fundamental realizados por 39 países e avaliou os resultados por eles obtidos. Entre outros fatores, ela levou em consideração os salários dos professores, materiais pedagógicos, instalações físicas, acesso à escola, número de estudantes matriculados e o papel dos pais na supervisão e aconselhamento das escolas públicas. 
O estudo também comparou os benefícios sociais e econômicos resultantes da educação de qualidade, em termos de
aprendizagem dos estudantes, condições de empregabilidade e níveis salariais. Segundo a pesquisa, os níveis de despesa com educação variam consideravelmente entre os 39 países analisados, tanto em termos absolutos como relativos. Países como Dinamarca, Israel, Islândia e Estados Unidos, por exemplo, gastam em todos os níveis de ensino o equivalente a cerca de 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Países como a Rússia e a República Eslovaca gastam 4,5%. Destinando ao setor educacional 5,2% do PIB, o Brasil se encontra numa posição intermediária. 

O estudo também mostra que, entre os países mais ricos, 90% do investimento em ensino fundamental e médio vem do poder público. Quanto ao ensino superior, em países como a Finlândia, Noruega e Coreia do Sul, 75% dos investimentos são privados. A prioridade do gasto público é dada, assim, à formação básica. A pesquisa revela ainda que, em pelo menos 8 dos 39 países pesquisados, as instituições públicas cobram dos pais uma contrapartida média de US$ 1,5 mil por ano. Como se vê, nesses países, o ensino público não é inteiramente gratuito. Entre os países mais desenvolvidos, o ensino de redação, literatura, matemática e ciências representa quase 50% do tempo de instrução obrigatória, para os alunos com idade entre 9 e 11 anos, e 40%, para os estudantes na faixa etária entre 12 e 14 anos. 
Nos demais países, o tempo gasto com essas atividades básicas varia de 16% a 30%. 

Evidentemente, isso faz diferença no aproveitamento e no preparo dos estudantes. Esse também é um dos fatores que os levam, quando adultos, a continuar estudando durante toda sua vida profissional. Por isso, mostra a pesquisa, quanto melhor é a qualidade da formação básica dos alunos, mais valor darão ao ensino superior e aos cursos de pós-graduação, o que os torna menos vulneráveis ao desemprego causado pelas crises econômicas. Entre 1997 e 2007, segundo o estudo, a taxa média de desemprego anual de quem tem nível superior ficou em torno de 4%, em média. Entre os que somente concluíram o ensino básico, a taxa média de desemprego ficou acima de 10%, nos 39 países pesquisados. O estudo da OCDE mostrou ainda que os países desenvolvidos têm 20 alunos por turma no ensino fundamental. No Brasil, embora o tamanho das turmas tenha diminuído em relação a 2000, o número é de 30 estudantes, nas turmas de 5.ª a 9.ª série do ensino fundamental. É um número alto, o que dificulta o trabalho dos professores. A pesquisa da OCDE registra avanços na educação brasileira, como a universalização do ensino fundamental. Mas, comparativamente, a formação dos nossos estudantes, de modo geral, continua muito longe de um padrão aceitável.

SÃO MILHÕES DE TIRIRICAS


Estado de Minas, 25/10/2010 - São Paulo SP 
São milhões de Tiriricas 
País tem 14 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever
Incapazes de ler o nome do país em que vivem, há no Brasil 14,1 milhões de pessoas maiores de 15 anos que, se soubesse, escreveriam um bilhete em protesto contra a escuridão em que se encontram. Sobram-lhes razões. Em pleno século 21, essa é uma chaga que coloca em dúvida os propalados avanços do país rumo ao mundo desenvolvido e a pretensão de ocupar posição de destaque entre as oito maiores economias do planeta. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), concluída em 2009, com base de dados levantada em 2007. H poucas indicações que esse que quadro tenha melhorado significativamente. Aliás, se pudessem, os autores do bilhete às autoridades acrescentariam pedido de mais apoio aos programas e aos abnegados professores do ensino para jovens adultos. São enormes as dificuldades enfrentadas pelos que se dedicam a levar as luzes do alfabeto a adultos e mesmo a jovens. Faltam recursos para oferecer ensino atraente e os alunos são inibidos pela vergonha de não saber ler e pela luta contra a pobreza do dia a dia.Nem todos têm a sorte e o talento do palhaço Tiririca que, ao receber 1,3 ,milhão de votos para representar São Paulo na Câmara dos Deputados, provocou polêmica entre juristas e intelectuais. Enquanto a Justiça decide se pode diplomá-lo, o Estado de Minas visitou várias vitimas da difícil condição de analfabeto. Muitos que conseguiram até criar família, o que faz pensar de que não seriam capazes se tivessem tido acesso, na idade certa, ao alfabeto e à tabuada. “Ser analfabeta é humilhante”, disse uma entrevistada. “É a pior coisa que existe. Não podia andar sozinha, não sabia o preço de nada, não conseguia pegar um ônibus”, testemunhou uma outra que, depois de criar 19 filhos, vive o entusiasmo das primeiras letras. Eles não fazem ideia do que são as Metas do Milênio, definidas em 2000, pela Conferência Mundial de Educação, em Dacar, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O Brasil comprometeu-se a chegar em 2015 com taxa de analfabetismo de no máximo 6,7% da população. A metaestava longe de ser ousada e, a bem da verdade, deveria ter sido bem mais perto de zero. Contudo, no ritmo em que o país vem reduzindo seu vergonhoso estoque de analfabetos, especialistas ouvidos pela reportagem já colocam em dúvida até mesmo o piso compromissado. O passado recente não sugere conclusão diferente. Segundo o IBGE, em 2001, o Brasil tinha 14,9 milhões de analfabetos com mais de 15 anos. Portanto, em seis longos anos, não retiramos da escuridão mais do que 800 mil brasileiros. 
Seja em razão do tal compromisso com as Metas do Milênio, seja com outro que deveria ser ainda muito mais importante, com a consciência nacional e o respeito a essa multidão de analfabetos, não é aceitável andar tão devagar, quase parando, com tamanha prioridade. Seja qual for o próximo governo, um programa que mobilize recursos e pessoas no combate ao analfabetismo, de modo a tornar modesto o compromisso com a Unesco, terá de ser obrigação. É hora de o país pagar essa dívida desonrosa com 14 milhões de brasileiros.

Enem está em dívida com os professores


 Correio Braziliense, 22/10/2010 - Brasília DF 
Enem está em dívida com os professores 
Programa de subsídios do governo que deveria custear 50% das prestações de notebooks comprados por servidores não funciona desde agosto. Valor devido é de aproximadamente R$ 3,6 milhões. Solução pode ser um projeto de lei que permita o remanejamento 
Noelle Oliveira Repórter do Correio Braziliense
O Governo do Distrito Federal (GDF) está em dívida com cerca de 32 mil servidores da área de educação, entre professores e profissionais de assistência. O valor: aproximadamente R$ 3,6 milhões. O montante é relativo ao programa de subsídios chamado Professor Informatizado, criado em 2007, para a compra de notebooks pelos funcionários do GDF. Pelo acordo, caberia ao Estado pagar metade do valor das parcelas referentes aos equipamentos, porém, os repasses não ocorrem desde agosto deste ano, somando três prestações. Por mês, o governo local deveria desembolsar com o programa um total de R$ 1.189.564,12, quantia paga pela última vez em julho último. 

O servidor que optou por comprar o computador tem descontada, durante 24 meses, em sua folha de pagamento, uma quantia de R$ 76, sendo que o GDF deve devolver 50% deste valor — cerca de R$ 38,41 (levando em consideração os juros do parcelamento bancário) — ao funcionário. É justamente essa reposição que não vem sendo feita. “Estamos pagando o valor integral por um produto que foi escolhido pelo governo. Não há vantagem
nenhuma nisso”, considera a diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Rosilene Correa. 

Entre os beneficiados pelo programa, estão servidores e professores da Secretaria de Educação, bem como docentes e funcionários da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs). Inativos e educadores que possuem contrato temporário não foram contemplados. A iniciativa é gerenciada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa. Já o financiamento ocorre em convênio com o Banco Regional de Brasília (BRB). Os parcelamentos começaram a ser feitos pelo banco em março de 2009. Ao todo, o valor do notebook é de R$ 1.426, acrescido de 1,6% de juros ao mês, referentes aos encargos bancários. Essa não é a primeira vez, no entanto, que os servidores sofrem com os atrasos do governo para reposição das parcelas. “Nos primeiros meses também atrasou. No fim do ano passado, tivemos um atraso grande, que foi regularizado em março”, lembra Rosilene. Além de arcar com parte do custo do
eletrônico adquirido, o professor que optou em participar do programa também se comprometeu a participar de um treinamento de Capacitação e Atualização Tecnológica, oferecido pelo próprio governo, durante 12 meses. 

Sem dinheiro - A Secretaria de Ciência e Tecnologia afirma que o pagamento é de responsabilidade do governo local, já que a verba não teria sido repassada. O GDF, por sua vez, explica que não há dinheiro para cumprir com o compromisso, já que não existe previsão orçamentária para o programa em 2010. Para tentar resolver o impasse, o governo está elaborando um projeto de lei que permita o remanejamento de recursos de forma que os pagamentos de agosto a dezembro deste ano sejam feitos até o fim de 2010. A promessa é de que os recursos de 2011 também já estejam previstos no Orçamento do próximo ano. Ainda não há data para o projeto ser encaminhado à Câmara Legislativa. O Sinpro afirmou que, caso a situação não seja solucionada rapidamente, o sindicato acionará o governo na Justiça por quebra de contrato.

UM PROBLEMA HISTÓRICO


Um problema histórico
1947 - O marechal Eurico Gaspar Dutra, então presidente do Brasil, cria o primeiro projeto de alfabetização de massa: Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). O analfabeto era visto como improdutivo economicamente, sendo uma “vergonha” para o desenvolvimento da nação. Sem muito sucesso, a campanha ganha uma segunda fase. 
1948 - A CEAA se desdobra na Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), meio em que a primeira não havia conseguido chegar. Inspirada em experiência mexicana, a proposta era formar “missões rurais”, com uma enfermeira, um veterinário e um professor mudando a realidade de uma comunidade. Com material didático pobre e falta de estrutura, a CNER não cumpriu a expectativa. 
1956 - As duas campanhas ainda estavam em vigor quando Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência. Com a baixa eficácia das anteriores, o governo cria a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), que passou a ver o analfabetismo como resultado da ineficiência da escola primária regular. A ideia era começar com um projeto piloto em um município e expandi-lo mais tarde. Mas a experiência se limitou à Leopoldina, no Sul de Minas. 
1960 - O Censo revelava que
39,6% dos brasileiros maiores de 15 anos eram analfabetos. 
1963 - Os três programas (CEAA, CNER e CNEA) são extintos. 
1964 - No governo de João Goulart, o educador Paulo Freire, famoso por experiências positivas de alfabetização no Nordeste, cria o Plano Nacional de Alfabetização. A inovação metodológica de Freire consistia em usar, no lugar de cartilhas, palavras significativas, extraídas do universo vocabular dos alunos, ou seja, aproveitar a bagagem dos iletrados. Mas a experiência foi curta: no mesmo ano, Goulart foi deposto pelo regime militar. 
1967 - É criada a Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), que, em 1970, iniciou mais uma campanha de massa. Em seus 15 anos de existência, o Mobral consumiu recursos financeiros consideráveis. O material didático era produzido por empresas privadas e o objetivo era acabar com o analfabetismo em 10 anos. Não buscava o conhecimento amplo, mas apenas a decodificação alfabética. Acabou em 1985, sob investigação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). 
1985 - José Sarney, então presidente, cria a Fundação Educar, com atuação discreta, apenas supervisionando ações de secretarias estaduais. 

1988 - A Constituição garante odireito à educação àqueles que a ela não tiveram acesso na idade própria. 
1990 - Fernando Collor, então presidente, cria o Plano Nacional de Alfabetização e Cidadania, que se limitou a distribuir recursos para projetos destinados à alfabetização. Em 1992, Itamar Franco assume a Presidência, mas não apresenta novidades na área. 
1996 - A mulher do presidente Fernando Henrique Cardoso, Ruth Cardoso, lança o Programa de Alfabetização Solidária (PAS), que se destinava a alfabetizar jovens e adultos de comunidades pobres. A novidade era a parceria com a sociedade civil. No entanto, a fraca formação de alfabetizadores, a uniformidade do material didático e a meta de alfabetizar rapidamente são criticadas por especialistas. Com o fim do governo FHC, o PAS deixa de ser oficial, mas existe até hoje. 
2003 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lança o Brasil Alfabetizado, com o objetivo de erradicar o analfabetismo. Os frutos da proposta ainda não apareceram: o índice de iletrados, na faixa de 15 anos ou mais, caiu menos de dois pontos percentuais: de 11,6%, em 2003, para 9,7%, em 2009, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.


FONTE:Clipping 25.10.2010

Pelos caminhos das letras


> Estado de Minas, 25/10/2010 - São Paulo SP 
Pelos caminhos das letras 
Jovens e idosos relatam histórias de dificuldade e superação para conseguir viver nummundo em que a escrita pode ser a diferença entre a dura realidade e o futuro promissor 
Amanda Almeida
A ordem era enérgica e não adiantava discutir: a filha estava proibida de se matricular na escola. Na cabeça do pai, em poucos meses, a “assanhada” arrumaria namorado. O relato de Maria das Graças da Silva, de 63 anos, que cresceu em Jequeri, Zona da Mata, é repetido por outras colegas da turma de Educação para Jovens e Adultos (EJA) que se reúne numa igreja no Alto Vera Cruz, na Região Oeste de Belo Horizonte. “Antigamente, pai não deixava sair de casa. Só me mudei para casar. Vieram os filhos e fiquei mesmo analfabeta”, relata Maria. Ela está na faixa de idade mais crítica, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009 (Pnad): 20,1% da população com mais de 50 anos é iletrada. Como muitos companheiros do EJA, Maria não se dedicou aos estudos antes de criar os 19 filhos, hoje são 10 vivos. “Não tinha como guardar um tempo para os cadernos. Precisava colocar comida na boca dos meninos”, diz. Mas ela alimentou o sonho de chegar à sala de aula durante toda a vida, marcada por traumas do analfabetismo. “É a pior coisa que existe. Não podia andar sozinha, não sabia o preço de nada, não conseguia pegar um ônibus. O mundo era feito de códigos que eu não conseguia decifrar. Minha carteira de identidade era uma digital sem assinatura.” 

Ele não quis mais procurar a escola, mas Maria aproveitou que os filhos cresceram e se matriculou na turma do EJA há três anos. “Para falar a verdade, não aprendi muita coisa ainda. Mas já sei assinar meu nome e até troquei a minha carteira de identidade”, comenta, enquanto outros colegas dizem que também já fizeram a troca do documento. Apesar de várias experiências se repetirem, os grupos de EJA são heterogêneos, reunindo um público formado por jovens, idosos, trabalhadores e pessoas atendidas pela inclusão social. 

Enquanto nas áreas rurais prevalece o programa Brasil Alfabetizado, nas capitais os grupos de EJA predominam. Em Belo Horizonte, o projeto foi implantado em 2004. Há 648 turmas e, no ano passado, 1.716 alunos foram certificados e deixaram de ser
considerados analfabetos. “Consideramos um número significativo, mas ainda há o que avançar. A batalha é árdua. Ao mesmo tempo que precisamos investir nessas turmas, é necessário um esforço muito grande para que os jovens concluam os estudos na época certa”, diz a diretora do Centro de Aperfeiçoamento do Profissional da Educação (Cape) da Secretaria Municipal de Educação, Gioconda Machado Campos. Atrair os analfabetos à escola é um dos maiores desafios apontados pela diretora. “Para diminuir a dificuldade de eles chegarem ao espaço, criamos turmas em igrejas e centros comunitários. Para que eles não abandonem, tentamos fazer atividades diferentes, como visitas a museus e viagens.” 

AMOR DE MÃE: Ágata Kelly Silva Campos, 22 anos - Aos 10 anos, Ágata Kelly Silva Campos, hoje com 22, sofreu ao ver a mãe deixando sua casa no Jardim América, na Região Oeste de Belo Horizonte. A instabilidade na vida familiar teve reflexos na escola e, com baixos desempenhos, abandonou a sala de aula. Voltar aos estudos ficou ainda mais difícil quando, aos 20 anos, foi mãe e, um ano depois, teve o segundo filho. Até o ano passado, ela só sabia assinar o nome. “Mas percebi que precisava mudar isso para criar meus filhos. Quero ajudá-los na escola e me qualificar para ter um bom emprego. O mercado de trabalho é muito competitivo e o mínimo exigido é a leitura”, diz. Mas deixar os filhos em casa para frequentar as salas de aula só foi possível com a colaboração da mãe. “Ela voltou para casa e tem me ajudado muito.” 

SUPERAÇÃO: Valcio Elcio Henrique, de 32 anos - São 15 anos de sala de aula e uma vontade infinita de aprender. Mesmo depois de tantos anos, Valcio Elcio Henrique, de 32 anos, continua arrumando com carinho o material escolar para ir à Escola Municipal Deputado Milton Salles, no Jardim América, na Região Oeste de Belo Horizonte. Ele tem deficiência cognitiva e faz parte do projeto de inclusão da Educação para Jovens e Adultos (EJA). “Quero aprender tudo. Já sei alguma coisa, mas ainda 
falta mais.” Ele diz que largou a escola quando era criança, porque não gostava da professora. “Ela dava atividades bobas. Só queria brincar de colorir, recortar sílabas e colocar as palavras em círculos. Não me estimulava”, comenta, mostrando o caderno com quase todas as folhas preenchidas. A letra redonda e caprichada mostra o avanço. FÉ NA PALAVRA: . Joanice Gomes de Oliveira, de 61 anos - A aposentada Joanice Gomes de Oliveira, de 61 anos, não falta aos cultos na igreja perto de casa, no Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte. Atenta, ela fecha os olhos para guardar as palavras que o pastor pronuncia e já decorou algumas passagens da Bíblia. Mas ela quer mais. Analfabeta, Joanice entrou numa turma de Educação para Jovens e Adultos (EJA), com objetivo único. “Se Deus quiser, até o fim da minha vida vou conseguir ler um salmo e eu sei que Ele vai me ajudar”, afirma. O livro sagrado foi também o pontapé para outros cinco colegas do grupo de 15 alunos. Joanice diz que já foi “de tudo” na vida. “Trabalhei como faxineira, servente, cozinheira, lavadeira... Não tinha tempo para estudar. A prioridade era dar um futuro para os meus três filhos biológicos e dois de criação”, comenta. 

QUALIFICAÇÃO: Maria Augusta Souza, de 78 anos - A aposentada Maria Augusta Souza, de 78 anos, sempre teve dificuldade para conseguir emprego e garantir renda capaz de sustentar oito filhos. “Analfabeto até acha emprego, mas é sempre de faxineira, lavadeira e pedreiro. Passa humilhação e ganha pouco. O mercado é praticamente fechado para quem não sabe ler”, relata. E como a fome batia à porta com frequência, a educação ficava cada vez mais longe. Viúva e com os filhos criados, ela conseguiu realizar um sonho nos últimos anos: arrumou pela primeira vez uma mochila com caderno, lápis e borracha, pôs nas costas e seguiu para escola. A leitura ainda não é perfeita, mas ela já deixou um obstáculo para trás. Por anos, sentiu medo de visitar lugares desconhecidos. Quando era obrigada a enfrentar o desafio, os filhos a monitoravam por telefone

Apagão que envergonha o Brasil


Estado de Minas, 25/10/2010 - São Paulo SP 
Apagão que envergonha o Brasil 
Com a eleição de Tiririca, debates em torno do analfabetismo voltam à tona. Apesar de o país abrigar um contingente de 14,1 milhões de analfabetos, projetos para acabar com essa triste estatística não tiveram espaço nos programas dos candidatos à Presidência 
Amanda Almeida
Envergonhada, a diarista Luzia Silva de Araújo, de 53 anos, olhava para todos os lados ao entrar na seção de votação e ficava aliviada quando não avistava outros eleitores. Dos mesários, não dava para escapar. Eles descobririam de qualquer maneira quando ela assinasse o caderno de presença com o dedão. “Ser analfabeta é humilhante. Eu tentava esconder isso na hora de votar”, diz. Ela espera deixar o status em breve, mas, por enquanto, integra o batalhão de 14,1 milhões de brasileiros iletrados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009 (Pnad). O contingente é maior do que a população de países como Portugal, Bolívia e Bélgica. Mas o tamanho do antigo problema não foi suficiente para ganhar espaço nas propagandas de televisão e rádio dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e só ganhou destaque nas eleições quando o palhaço Tiririca (PR-SP), eleito deputado federal mais votado do Brasil, com 1,3 milhão de votos, foi apontado como analfabeto pelo Ministério Público. Enquanto a polêmica sobre a diplomação ou não de Tiririca como deputado ganha as ruas, o analfabetismo como problema social ainda não foi citado em debates televisivos no segundo turno. Entre os concorrentes à Presidência, o tema foi brevemente tratado no primeiro turno, quando Marina Silva (PV) comentava que não sabia ler até os 16 anos. Nas poucas vezes em que foram questionados pela então candidata, Dilma e Serra não se aprofundaram em propostas, limitando as respostas ao “vou investir em educação”. Quase esquecido pelos adversários, o mundo dos analfabetos diminui a passos lentos. Em relação a 2008, o índice do ano passado mostra redução de apenas 0,3 pontopercentual na taxa de analfabetos com mais de 15 anos. 
Se depender da velocidade de queda na taxa, o cumprimento das metas para o fim do analfabetismo no país exigirá esforços extras. Segundo acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2015 o Brasil deverá ter 6,7% de iletrados. Mas, se o ritmo de redução dos últimos anos for mantido, em 2015 o país ainda registrará 7,9% de analfabetos. Há ainda outra meta: o Plano Brasil 2022, do governo federal, prevê que o problema social esteja erradicado em 2022. Mas especialistas da área não acreditam que a conquista seja comemorada no prazo e alertam que o resultado dependerá de mais investimento na área. “Se não houver mais compromisso e seriedade dos gestores, só a biologia se encarregará em acabar com os analfabetos. Ou seja, quando eles morrerem, teremos estatísticas melhores. É uma vergonha”, comenta o senador Cristóvam Buarque (PDT). 

O fim do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode receber a amarga notícia para os petistas de ter avançado menos do que a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no combate ao analfabetismo. Em 1995, primeiro ano do tucano, havia 15,6% de iletrados no Brasil, segundo a Pnad. O ex-presidente terminou o mandato em 2002 com 11,8%, registrando queda de 3,8 ponto percentual em oito anos. Já no começo do governo Lula, em 2003, o país tinha 11,6% de analfabetos. O último levantamento, em 2009, apontou 9,7%. Em sete anos de PT, o índice caiu 1,9 ponto percentual. COMPARAÇÃO - A lenta redução
coloca o Brasil entre os piores índices percentuais de analfabetos da América Latina. Segundo estatísticas da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), de 2005, quando havia 11,1% de iletrados no Brasil. O país estava atrás de países mais pobres, como Barbados, Belize, Paraguai e Trinidade e Tobago, em números de alfabetizados. E, se as taxas de outros países se alteraram pouco, possivelmente a posição brasileira no ranking não deve ter melhorado com a queda nos últimos anos. Em 2005, o Peru estava à frente do Brasil com 8,4%. Cinco anos depois, o país continuaria atrás, com 9,7%. 

Nosso maior desafio é fazer valer a Educação para Jovens e Adultos (EJA). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, inclui o EJA como modalidade de ensino nos currículos, mas os investimentos não são tão expressivos”, diz a coordenadora da organização Ação Educativa, Vera Masagão. Para ela, o segredo é saber explorar a vontade de aprender dos analfabetos. “São pessoas com pouca autoestima. É preciso entrar no mundo deles para atraí-los. Mas falta preparação para o professor e material didático consistente”, afirma. A alfabetizadora da rede municipal de ensino de Belo Horizonte Roselene Ferreira, integrante da coordenação do EJA na Escola Municipal Deputado Milton Salles, acrescenta que a alfabetização deve ser vista como processo emancipatório. “Antes o analfabeto era visto como incapaz. Hoje é observado como um sujeito com amplo conhecimento que deve ser ampliado”, diz. A aluna Mônica Márcia, de 39, faz parte do grupo do colégio e vibra com os primeiros avanços. “Já sei escrever meu nome, mas ainda tenho de me esforçar.”

Gráfico de setores (Pizza)


Gráfico de setores (Pizza)

O gráfico de setores é usado para mostrar a importância relativa das proporções. Então esse gráfico trabalha com porcentagens.
Para construir um gráfico de setores seguir os passos abaixo:
  1. Traçar uma circunferência. A área do circulo representará o total, isto é, 100%.
  2. Não esquecer que uma circunferência tem 360°. Então se para 100% correspondem 360°, para o valor de cada categoria corresponderá proporcionalmente um valor em ângulo. “t%” de uma dada categoria corresponderá um setor cujo ângulo “x” é dado por:
    Equação
    Às outras freqüências relativas corresponderão setores cujos ângulos são calculados de forma similar;
  3. Marcar os valores dos ângulos calculados na circunferência e trace raios separando por setores;
  4. Fazer um tracejado diferente em cada setor para facilitar a distinção;
  5. Colocar um título e um a legenda no gráfico.
Exemplo:
Exemplo





Exemplo














Outras visualizações deste mesmo gráfico proporcionadas por software como o excel:
Exemplo










Mas com algum recurso como gabaritos de circunferências e elipses também é possível construir essas formas do gráfico de setores.
Essas visualizações são utilizadas principalmente para ilustrar apresentações ou publicações onde o aspecto visual é mais importante

GRÁFICO DE LINHAS


Gráfico de linhas

É comum para quem trabalha na área de administração e negócios, observar o comportamento de uma variável ao longo do tempo. Por exemplo, um executivo acompanha a cotação diária das ações da sua empresa, um gerente acompanha o volume semanal de vendas de sua loja, um engenheiro de produção acompanha características de qualidade do produto que fabrica.
Quando se fazem observações ao longo do tempo, é preciso registrar tanto o valor observado como o momento da observação. Depois, com esse conjunto de dados é possível fazer um gráfico de linhas.
O gráfico de linhas é usado para apresentar a variação de séries temporais. Series temporais são dados produzidos e monitorados ao longo do tempo.
Para fazer o gráfico de linhas:
  1. Coletar valores da variável y nos tempos que você pretende estudar;
  2. Traçar um sistema de eixos cartesianos e representar o tempo no eixo das abscissas e a variável y nos eixos das ordenadas;
  3. Estabelecer escalas;
  4. Escrever os nomes das variáveis nos respectivos eixos e depois fazer as graduações;
  5. Fazer um ponto para representar cada par de valores x e y;
  6. Unir os pontos por segmentos de reta;
  7. Escrever o título.
Exemplo:
Exemplo








Exemplo